QUATRO VELHINHAS
O relógio da sala acabara de bater meia-noite, quando uma delas lembrou que precisavam terminar com aquilo o mais rápido possível. As quatro velhinhas achavam-se sentadas em torno de uma mesa, onde havia um morto deixado num dos cantos. Todas estavam apreensivas, mas nenhuma delas parecia se importar com ele. Matilda apanhou a faca que havia retalhado as carnes do presunto e resolveu lavá-la, pois não era de largar serviço pela metade. Dinorá pegou todo o lixo acumulado e pensou um pouco. Como estava com as mãos carregadas, perguntou onde podia colocar aquilo tudo.
- Ponha ao lado daquela canastra até refletir melhor o que fazer...
Nisso, o telefone tocou ardido, abrindo um tremendo vazio na sala e deixando todas tensas. Quem seria uma hora daquelas?
- Ninguém atende! Ninguém atende! Senão, não terminamos isso hoje! Berrou Marocas, a dona do apartamento.
Lá embaixo, a sirene de uma viatura de polícia passou apressada, desassossegando corações. Marocas levantou-se para fechar a cortina da janela, que permanecia aberta. Como eram distraídas!
Quando regressou, não houve tempo para mais nada. Emília abaixou tudo o que tinha nas mãos e disse eufórica:
- Bati!
Enfim, puseram-se a contar os pontos das cartas daquele jogo de buraco.
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Conto publicado no livro "Sofialóris, vá se vestir, menina!"
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