NOSSA HISTÓRIA



COLETIVO QUATATI: QUEM SOMOS?


Abaixo, você terá uma breve história absolutamente real, esqueleto para um longo e apaixonante romance.

E, na sequência, um Manifesto, que é puro sonho e poesia.


O ano era 2012 e éramos quatro, daí Quat.

Todos moradores de Atibaia; daí Ati.

Um de nossos integrantes, o poeta, escritor, ativista e professor, Marco Aqueiva, vivia entristecido, pensando estar atropelando, nas curvas que quase diariamente fazia entre as cidades de Bragança (onde ministrava aulas de Literatura em uma instituição de ensino superior, a FESB) e Atibaia, alguns bichinhos, os quatis.

Ainda hoje, passados 12 anos, os cinco que agora compomos o grupo ainda não temos certeza absoluta de que os bichinhos que faziam Marco chegar em casa mergulhado em tristeza e remorso eram quatis. Mas, dado o tamanho e características vislumbradas na pouca luz da estrada, eram sim. Eram Quatis.

Mamífero pequeno da ordem carnívora, o quati busca alimentos - frutas, aves, insetos, vermes, minhocas - em grupos de 4 a 20 indivíduos e habita desde o Arizona, nos Estados Unidos, até o norte da Argentina, passando, claro, pelo Brasil.

Assim, coincidência talvez, poderíamos ter iniciado com quatro: Marco, José, João e Fátima. Coincidência, talvez, os quatro haviam passado, praticamente no mesmo período (início dos anos 90) pela USP (Universidade de São Paulo), de onde saíram graduados e mestres, quase doutores. José e João, nascidos em São Paulo, mas morando em Atibaia. Marco e Fátima, moradores da cidade desde o início do século, 2001.

As afinidades desse grupo inicial, que poderia ter se limitado a quatro, se ficássemos apenas em aspectos casuais, não paravam aí: USP e Atibaia. Houve motivos fortes para o quatro se tornar cinco, e..., então, seis; depois, quatro; depois cinco, enfim.

O amor pela Literatura e o exercício regular da escrita também os uniam (e unem). Assim foi que a eles se juntou um quinto componente: Nestor.

E como foi?

A Secretaria de Cultura do Município de Atibaia lançou um concurso literário. Marco, Nestor, José e Fátima se inscreveram. E ganharam. Os dois primeiros, na categoria poesia. Os dois últimos, na categoria conto.

Assim, Fátima e Nestor lançaram seu primeiro livro. Marco, José e João já haviam lançado outros. Mas todos, igualmente, se encheram de ânimo e esperança.

Sobre os laços entre os cinco, poderíamos escrever vários textos. Mas vamos a um resumo:

José e Fátima haviam se conhecido na USP, brevemente. Marco e Fátima também se conheceram na Universidade de São Paulo e se casaram. José e João (que são irmãos) conheciam, desde a infância, Nestor, também nascido em Atibaia. Nestor era aluno de Marco, na Fesb.

Pois bem, a essas cinco personagens, soma-se uma sexta: Yndiara.

Ela e Nestor se conhecem participando da final do Mapa Cultural Paulista. Do primeiro contato, à paixão ao casamento, foi tudo relativamente rápido. Marco e Fátima foram padrinhos.

Aí então, tínhamos, tal como no livro de Maria José Dupret, um Éramos Seis, que, em nosso caso, durou pouco.

Nestor e Yndiara optaram, pouco após o casamento, pelo desligamento. E ficamos em quatro.

Em 2020, um mês antes do início da pandemia de Covid, Marco foi subtraído dessa vida de sonhos, planos, projetos, aulas, quatis, amor, desafios, mais sonhos, muita leitura, estudo, encontros, saraus, livros, lançamentos, publicações. Foi subtraído da vida tal qual a apreendemos com esses cinco limitados sentidos.

Restamos três, portanto.

Em 2022, Nestor e Yndiara se juntaram novamente ao grupo!

Entre 2012 e 2024, vivemos muito.

Foram dezenas de reuniões, com risadas, reflexões, planos, salgadinhos, cervejas, vinhos, licores e afins; mais salgadinhos, doces, filmagens e muitos poemas e poesia para o nosso Canal do Quatati.

Trouxemos à vida dois livros, ambos coletâneas (um de crônicas e um de poesia); organizamos seis saraus, cada um deles em homenagem a autores(as) contemporâneos. O último foi dedicado a nosso insubstituível e amado Marco Aqueiva, de cuja lucidez, inteligência, gargalhada – e muito mais – nunca esqueceremos e sempre seremos devedores.

Adolescemos, enfim.

Em 12 anos, nascemos, crescemos. Amadurecemos e atuamos em grupo e individualmente (com participações na vida literária e, lógico, lançamentos de livros).

Do amadurecimento, faz parte (todos sabemos) o sofrimento.

Sofremos. Muito. Mas resistimos nos sonhos, nos projetos, na vida, na crença, na rebeldia possível, na palavra e na Arte.

Assim, percorremos caminhos que vemos e também os que não vemos embalados por um desejo, por uma fé em boa medida racional, que sente as ventanias da vida. Mas fortalecida pelo desejo de resistir a elas: as ventanias da vida, faz tão atual e verdadeiro como força motriz de nossa história o MANIFESTO QUATATI, escrito por Marco Aqueiva.

(A mim, fez muito bem reler o MANIFESTO!)


(Texto acima escrito por Fátima M. Brito,

em uma tarde do outono de 2024.)


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MANIFESTO QUATATI


(Por Marco Aqueiva)


QUATATI é um animal fabuloso que só pode apoiar-se nas pernas de seus leitores. QUATATI é na verdade um animalzinho que pode se acomodar em qualquer cantinho, mas prefere os cômodos olhos de seus leitores.

Quer as grandes extensões, planícies dos sonhos a dominar com a vista. Os planaltos maltratam sua fome de justiça. E das rochosas esperanças foge vomitando de hora em hora.

Quer da providência uns bons ovos mexidos bacalhau com bacon ao som dos cantadores de folk cordel sertanejo. NÃO SIM NÃO SIM. É no rock do João Três Voltas que ele maxixa mais do João Três Voltas que ele maxixa mais. NÃO SIM NÃO SIM.

Quatati quer ganhar o mundo, mas é tímido como um efetivo de ratos no porão de um transatlântico. NÃO SIM NÃO SIM.

Há dias o quatati estica-se para os quatro tempos. O tempo de retornar com o rabo ao esquecimento do caminho dado. Do Arizona o cowboy original domina tudo com seu olho arimã que difunde carcaças em sacolas plásticas. E ele lá, QUATATI QUATATÁ.

Do México ao sul da América, pedras e mais pedras nas bocas insubmissas. Missa? Iça arria iça arria. Marchava junto, prisioneiro dos sonhos remendados com os fios tenazes de mazelas e quimeras. E ele aqui, QUATATÁ QUATATI.

É tempo de descobrir com o focinho os ventos das quimeras. Quatati tentativa de ser Quati sem deixar de ser Calango. Orangotango, Black panther, tangolomango. Cada cultura tem seu próprio mundo. TEM NÃO TEM TEM NÃO TEM.

É tempo de inventar com as patas o caminho soliDário. Contra NÃO SIM NÃO SIM o árido hálito que fede no cercado/MERCADO. Ser gado como ser leitor onde menos se pode esperar. Um quatati o que tem a inventar. NADA NADA NADA NADA.

É tempo de esquecer que um dia quatati foi papagaiopapagaiopapaolhos camaleão na parcimônia da indiferença.

- Chegamos agora, e o que podemos mesmo dizer?